O elemento vazado foi criado em 1929 por dois comerciantes e um engenheiro e leva as iniciais do sobrenome dos três
O cobogó foi criado em 1929 por dois comerciantes e um engenheiro pernambucanos que usaram as iniciais dos seus sobrenomes para compor o nome “co-bo-gó”: Coimbra, Boeckmann e Góes. O desenho foi inspirado nos muxarabis, elementos vazados de origem árabe com tramas pequenas e feitos de madeiras. Eles foram pensados para sacadas e janelas de casas com intuito de trazer mais privacidade.
Na elaboração de um projeto para regiões quentes e úmidas, é preciso levar em consideração a incidência de luz solar e a ventilação. Pensando nessas necessidades, eles criaram o cobogó que, além de ter função decorativa, também auxilia nesses dois quesitos.
Conforme consta no Dicionário de Arquitetura Brasileira (Corona & Lemos, Editora Edart), cobogó (ou “combogó”, como era descrito antigamente) é “o nome que se dá, principalmente no Norte do Brasil, ao tijolo furado ou ao elemento vazado feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas, cuja função principal seria a de separar o interior ou o exterior, sem prejudicar a luz natural e ventilação. Nome que se generalizou para designar os elementos celulares usados como quebra-sol.”
Cobogó é a denominação dada ao elemento vazado, normalmente feito de barro ou cimento, que completa paredes e muros para possibilitar maior ventilação e luminosidade no interior de um imóvel, seja residencial, comercial ou industrial
Sobre o topo da colina, no local escolhido para fundação da cidade, de onde se avista toda o sítio urbano e o mar, num espaço vacante entre a Sé e a Casa de Câmara, foi plantada uma semente da arquitetura moderna no Brasil.
Um grande prisma de planta retangular serve de base ao conjunto, retificando o terreno delicadamente desnivelado. Esse desnível se acumula, permitindo que na cota mais baixa do terreno aberturas ofereçam acesso ao interior do sólido, onde funcionam banheiros públicos, que servem aos usuários do espaço do sítio histórico.
Nesse ponto, a solidez monolítica do edifício é negada, quando as aberturas dos banheiros fluem para a praça, o que nos leva a desconfiar que o edifício tenha sido implantado dessa forma para delimitar o vazio que o rodeia
O caráter de monólito da torre é atenuado pela pele de cobogós, que dá permeabilidade a fachada.
Um dos primeiros projetos de arquitetura onde os cobogós foram usados foi na Caixa d'água de Olinda. Projetado por Luiz Nunes em 1934, esse edifício é considerado um marco da arquitetura moderna com seus 20 metros de altura. Os cobogós dão permeabilidade à fachada monolítica do prédio que hoje é um mirante e fornece uma vista de 360 graus de Olinda e Recife.
Na mesma década em que os cobogós foram criados, o Brasil estava começando a viver o período modernista na arquitetura, que teve início na semana de arte moderna de 1922. O arquitetos desse período buscavam funcionalidade nos projetos, com elementos mais geométricos, linhas retas, uso de pilotis, fachadas com grandes panos de vidro, uso de concreto... não à toa, os primeiros cobogós foram projetados em concreto e tijolo e com os passar dos anos foram sendo desenvolvidos em diversos materiais e grafismos.
O arquiteto Lucio Costa teve forte influência nesse movimento modernista, disseminando o conceito do uso dos cobogós, valorizando seus benefícios e design em obras arquitetônicas.
Esse elemento vazado também é muito usado em interiores, pois traz luminosidade sem perder a privacidade, deixando ventilar e proporcionando uma setorização dos ambientes. Devido à importância para arquitetura brasileira, os cobogós ainda são materiais de estudos de diversos profissionais. O fotógrafo, designer e pesquisador Josivan Rodrigues, por exemplo, é autor do livro Cobogó de Pernambuco ao lado de Antenor Vieira e Cristiano Borba. Na publicação há um ensaio fotográfico mostrando os elementos vazados aplicados pela cidade de Olinda e Recife.
Por conta das fotografias de Josivan Rodrigues é que surgiu também o projeto Dingbat Cobogó. As imagens inspiraram o designer gráfico Guilherme Luigi, que é especialista em projetar superfícies de revestimentos dentro da perspectiva da cultura e da memória. Para ele, os cobogós são um elemento de identidade e pertencimento nesse meio urbano, que proporcionam memória e afetividade. “Na casa dos meus pais, onde eu cresci, existem cobogós. Eles fazem parte do cotidiano de Recife”, diz.
O projeto de Guilherme apresenta 36 símbolos, que podem ser impressos em diversos tamanhos, para servir de capa para um caderno, por exemplo, ou adesivos para revestir paredes.
Leve e monocromática, esta cozinha habita um endereço clássico em São Paulo. Trata-se do edificio Eiffel, inaugurado em 1956 por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos. Localizado bem no centro da cidade, o prédio abriga cobogós na fachada que se integram também aos interiores de alguns apartamentos. Neste, o elemento vazado surge como protagonista do ambiente. Projeto de Guilherme Pianca e Rafael Urano.
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