Estudo da Fundação Grupo Boticário teve o objetivo de apontar em valores financeiros os benefícios dessas barreiras naturais formadas por seres vivos
Pernambuco é um dos principais pontos turísticos do Nordeste por causa das praias paradisíacas. E os recifes de corais representam uma das principais atrações para os visitantes. Uma pesquisa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza mostra que a presença dessas barreiras naturais formadas por seres vivos é mais importante do que se pensa. Ao fazer a proteção do litoral, essas estruturas são responsáveis por evitar gastos bilionários com conseqüências provocadas pela da erosão e por inundações.
De acordo com o estudo, estima-se que para cada quilômetro de Recife de coral, R$ 941 milhões sejam economizados com possíveis danos naturais. Em Pernambuco, a pesquisa avaliou o Recife e Porto de Galinhas, em Ipojuca, na Região Metropolitana.
Seguindo esse mesmo parâmetro, é possível afirmar, conforme o estudo, que a economia chega R$ 2,5 bilhões. Desse total, seriam evitados gastos de R$ 1,6 bilhão, no Recife, e R$ 1,2 bilhão, em Ipojuca.
Segundo o estudo, a população do Recife está estimada em 1,6 milhão. Caso o valor para custar possíveis danos ambientais fosse repassado, cada habitante teria um custo de R$ 999,63. Já os 99 mil moradores de Ipojuca pagariam um valor estimado em R$ 12.282,99.
De acordo com a pesquisa feita pela fundação, os recifes de corais são comunidades de animais e algas marinhas, formadas principalmente por espécies de corais, que se conectam por meio de um esqueleto de carbonato de cálcio. Eles funcionam como uma barreira, reduzindo a energia e altura das ondas e, consequentemente, reduzindo impactos de fenômenos naturais.
Por isso, a degradação de recifes de corais aumenta a vulnerabilidade da costa, principalmente em situações de eventos extremos, como ressacas e tempestades. Isso gera também grandes danos e perdas materiais e imateriais.
“Falar da importância dos recifes de corais apenas pela sua biodiversidade não é o suficiente, porque existem outros argumentos financeiros que contrapõem a importância da conservação. Então surgiu a ideia de valorar para que a gente consiga trazer a importância financeira. Escolhemos dois dos vários serviços ecossistêmicos dos recifes de corais, que são a proteção costeira e o turismo”, explica a gerente de projetos do Grupo Boticário, Janaina Bumbeer.
O estudo realizado analisou os recifes de corais de nove estados do Nordeste, equivalente a uma área de aproximadamente 170 quilômetros quadrados. Em Pernambuco, o estudo aconteceu apenas no Recife e em Porto de Galinhas, por serem áreas mais visitadas por turistas.
O estudo chegou à conclusão de que esses animais marinhos geram o total de R$ 160 bilhões em proteção costeira. Além disso, para cada quilômetro quadrado de recifes, R$ 941 milhões são economizados em possíveis danos materiais que são evitados.
Ainda de acordo com a pesquisa, a construção de prédios nas proximidades do litoral deixa as cidades mais vulneráveis a alterações climáticas e ao avanço do mar. Os dados mostram que, quanto maior a densidade de edifícios potencialmente vulneráveis, maior o valor econômico da proteção costeira dos recifes de corais.
O Recife possui uma área vulnerável de 2,77 quilômetros, o que deixa cerca de 130 mil moradores em situação de alerta. Ipojuca tem 9,37 quilômetros de território vulnerável, fazendo com que cerca de 8,7 mil habitantes sofram as consequências climáticas caso não tenham a proteção dos recifes de corais.
Além de evitar os danos causados pelas mudanças nas condições climáticas, os corais são responsáveis por gerar 30 milhões de empregos em todo o mundo, como turismo, pesca e atividades recreativas.
A pesquisa da Fundação Grupo Boticário indica que apesar de cobrirem apenas 0,1% do fundo oceânico, os recifes de corais contribuem com quase 10% do valor de turismo nas áreas costeiras de todo o planeta.
A capital pernambucana recebe anualmente 3,3 milhões de visitantes, que acabam por frequentar as praias. No entanto, uma parte significativa dos recifes de corais das praias da capital do estado estão em processo avançado de degradação devido à poluição e mudanças climáticas.
A Praia de Porto de Galinhas, um dos locais mais frequentados por turistas em Pernambuco, acumula mais de R$ 714 milhões devido ao turismo gerado pelos recifes de corais. O município de Ipojuca recebe 800 mil visitantes por ano, boa parte deles vão em busca da experiência de mergulho para ver os corais.
Redes hoteleiras, restaurantes, artistas locais, comércios, fotógrafos e jangadeiros são apenas alguns dos beneficiados pela presença dos corais na região.
No entanto, olhos mais atentos conseguem perceber a diferença na saúde e cores dos recifes de corais de Porto de Galinhas e da praia de Tamandaré, no Litoral Sul.
O turismo “irresponsável”, segundo os pesquisadores, causa a degradação dos corais de Porto de Galinhas, que passam por um processo de branqueamento.
O pisoteamento e o contato direto causam a morte destes seres marinhos, que são extremamente sensíveis. Áreas de “sacrifício” são facilmente encontradas nesta praia. Nestas áreas, não há mais nada a se fazer para impedir o branqueamento dos corais e, por isso, são utilizadas como rotas para as piscinas naturais.
O estudo realizado ressalta que o valor dos recifes de corais para o turismo no Brasil poderia ser ainda maior, quando comparado com outros países como Egito e Indonésia, que lucram anualmente R$ 22,5 bilhões e R$ 9,5 bilhões respectivamente.
A implementação de um turismo responsável, menor emissão de CO², evitar danificar os recifes de corais, cobrar políticas públicas e investimentos na conservação de recifes de corais são algumas das atitudes sugeridas pelo estudo desenvolvido para preservar os recifes de corais.
Por meio de nota, a Secretaria de Meio Ambiente de Pernambuco informou ao Diario de Pernambuco que executa 10 projetos com ações diretas para os recifes de corais, são eles:
Plano de Ação para Controle e Monitoramento do Coral-Sol no litoral continental e oceânico de Pernambuco:
- Plano de Ação de Combate ao Lixo no Mar (Pacolmar-PE)
- Plano de Ação para Controle e Monitoramento do Peixe-Leão em Pernambuco
- Zoneamento Ambiental e Territorial das Atividades Náuticas (ZATAN)
- APA Marinha Recifes Serrambi
- Gestão Integrada da Orla Marítima:
- Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro
- PELD Tamandaré
- Projeto Tem Peixe
Além destes projetos, a secretaria desenvolve ações e iniciativas que, transversalmente, beneficia os recifes de corais, como a Política Estadual de Resíduos Sólidos, que envolve a capacitação de todos os municípios do estado para lidar com seus resíduos e rejeitos sólidos e líquidos.
Os recifes de corais funcionam como uma barreira, reduzindo a energia e altura das ondas (Foto: Filipe Cadena/Grupo O Boticário)
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